segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Paixão de vitrine

Paixão de vitrine, alimento pra alma.

Televisão de cachorro, alimento pra carne.

Em tempos de agrura, amar parecia coisa doente, paixão coisa distante.

Significado bíblico, nem carta de Paulo aos Coríntios redefiniriam.

Mas nem só de agruras vive o homem racional.

Outro dia senti paixão de vitrine por uma pessoa!

Antes disso, paixão de vitrine era sonhar com um CD duplo do Pink Floyd com luz vermelha pulsátil.

Bem antes, paixão de vitrine era dormir tendo em mente dias de glória igual Karatê Kid.

Ridículo? Não! Sincero, emotivo, exacerbado, brega (sempre!), ilimitado.

Coincidência ou não, descobri que as mulheres da minha vida têm nome tri ou polissílabo. Raras exceções com nomes menores; parentes em geral, ídolos.

Hoje centro-me em dedicar amor distinto e recíproco a três mulheres: a mãe, a irmã e a esposa.

Entre as três percebo a philia como um amor primário

Primeiro no caso da mãe, e desenvolvido com a irmã e a esposa.

Mas o cerne dessa conversa de uma pessoa só é a definição do que vem a ser paixão de vitrine, quando você transfere tudo aquilo que é lúdico e desejável da matéria para a pessoa.

Paixão de vitrine, transitando entre philia e eros, foi o desejo mais completo e instigante que senti nesses últimos anos.

A esposa me apareceu primeiro pelo nome; forte, trissílabo. Depois a silhueta animada, nariz, olho, coisas simples, cabelo, semelhança com sei lá o que de bom.

Sonhei com momentos, (como havia dito, brega sempre!)

Supracitado, paixão de vitrine é instigante e nesse caso eu não sabia que poderia ser recíproco.

Nunca recebi, mais do que eu mesmo gerei em mim, o amor que senti pelo CD do Pink Floyd ou as glórias e bravuras do Karatê Kid.

Mas a paixão de vitrine dedicada à esposa não importa o custo, e o benefício é incalculável!

Paixão de vitrine virou o melhor e constante retorno. Não comprei. Busquei!

E diferente do CD e da glória utópica, a paixão e amor se realimentam indo e vindo, cheios de defeitos e necessidades, exigindo, corrigindo, criticando.

Pus na vitrine a pessoa inteira, sem manual. Desejo sempre tudo aquilo que ela pode me oferecer de melhor e transformador, de real, nada criado por mim. Sem necessidades inventadas, mas existentes.

Simone é meu trissílabo, às vezes enigmática, mas sempre fascinante. Sempre numa vitrine pra que eu nunca me esqueça do valor, da conquista, do retorno, do bem que queremos nos fazer.

Um comentário:

Simone Ferla disse...

Lindo como sempre, marido poeta!