terça-feira, 24 de junho de 2008

Dona Avualda e as figuras da rua

De trás pra frente posso ser mais fiel, assim, creio, conseguirei fazer uma trajetória do espanto até o entendimento.

Hoje ela chegou animada, atrasada, com o pé novamente enfaixado; um médico com piercings e tattoos mexeu com seus sentidos e a fez ver que um homem esquisito pode se responsabilizar pela saúde do outro, sem aquele esterilizado estereótipo branco de consultório.

Não achei que seria diferente, mas hoje as queixas tinham relação com o filho:

“aquele indiota imprestável, e aquela mulher dele que não faz nada, com aquelas roupas mijadas e sujas da minha netinha que eles não cuidam! Como se botar uma criança no mundo fosse fácil, pra fazer é rapidim, mas pra criar... ai meu Deus, sei não viu!”

Radicalmente ela mudou e a conversa se voltou pro doutor de unhas pretas, alargadores na orelha:

“você precisava ver! As orelha tudo com alargador, tatuagem, um furo no lábio, as unhas pretas... eu acho que era um doutor gótico, sei lá.”

O fato é que ela chegou toda animada e lembrou-se de umas figuras malucas que passavam pela rua onde morou sei lá quando.

Tinha o Bebé Capão, um sujeito que usava um monte de paletós, tudo junto, um em cima do outro, e os pais usavam a imagem do doido pra tanger as crianças pra dentro de casa no fim da tarde.

“menino! Entra se não o Bebé Capão vai te pegar!”

Na mesma rua, outra figura: Xirica

Essa era uma mulher que enchia a lata, bebia altos gorós, trajava roupas justas e cultiva o estranho hábito de andar com uma jibóia em volta do pescoço. Você perguntará: “mas gente, jibóia é uma cobra!!”

Bom, a capacidade que Dona Avualda tem de contar causo em cima de causo, eu nem duvido que fosse apenas uma cobrinha cinza daquelas que vivem em baixo de pedras no jardim.

Segundo Avualda, Xirica bebia, e muito, trajava roupas justas e cobra e antagonicamente, apesar do fálico cachecol vivo, Xirica não curtia homens.

Xirica morreu, foi achada assim no chão de casa, acham que foi de tanto beber. A cobra lhe envolvia o pescoço falecido e não foi acusada do ocorrido.

Bebé Capão ninguém sabe dele, ficou no imaginário das crianças, junto do Papão, da Perna Cabeluda, do Corta-Bunda e do Batatão.

Um comentário:

Juliana Lima disse...

E a cobra? Morreu? Se não, quem ficou com ela? Capão que não deve ter sido, até porque o "nome" dele é bem sugestivo...
Fez-me lembrar de uma figura tipo Falcão com Mendigo. E um saco nas costas (que guardava os corpos das criancinhas roubadas)...
Santa imaginação!